sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Abordagem não Doutrinária em Busca da Relevância - John MacArthur


O pragmatismo na igreja reflete bem o espírito de nossa época. Livros com títulos tais como: Marketing seu próprio Ministério, Marketing a Igreja, e O Desenvolvimento do Marketing Eficaz e das Estratégias de Comunicação para Igrejas são a última moda. A indústria publicadora cristã vem produzindo, para líderes de igrejas, conselhos e mais conselhos tirados de campos seculares de estudo — psicologia, marketing, administração, política, entretenimento e negócios — enquanto os comentários, livros de auxílio para estudo bíblico e livros acerca de questões bíblicas estão em declínio.

O modelo para o pastor contemporâneo não é mais o profeta nem o pastor, é o executivo de corporação, o político ou, pior ainda, o apresentador de programas de "bate-papo" na televisão. A maioria das igrejas contemporâneas estão preocupadas com índices de audiência, pesquisas de popularidade, imagem corporativa, estatísticas de crescimento, lucro financeiro, pesquisas de opinião pública, gráficos populacionais, dados de recenseamento, tendências da moda, status das celebridades, a lista dos dez mais e outras questões pragmáticas. O que está desaparecendo é a paixão da igreja pela pureza e pela verdade. Ninguém parece se importar, desde que a reação das pessoas seja entusiástica.

Tozer percebeu que o pragmatismo havia se introduzido furtivamente na igreja de seus dias. Ele escreveu: "Digo sem hesitação que uma parte, uma grande parte, das atividades existentes hoje nos círculos evangélicos não são apenas influenciados pelo pragmatismo, mas parecem totalmente dominados por ele". Tozer descreveu o perigo que até mesmo o pragmatismo "consagrado" representava para a igreja:

A filosofia pragmática... não faz perguntas embaraçosas a respeito da sabedoria daquilo que estamos realizando ou a respeito de sua moralidade. Aceita como corretos e bons nossos alvos escolhidos, buscando meios e maneiras eficientes para alcançá-los. E, quando descobre algo que tem bom êxito, logo encontra um texto bíblico para justificá-lo, "consagra-o" ao Senhor e vai em frente. Em seguida alguém escreve um artigo em uma revista, depois sai um livro e, finalmente, o inventor recebe um título de honra. Após tudo isso, qualquer indagação quanto à sua biblicidade ou até mesmo quanto ao seu valor moral é completamente rejeitada. Não há como se argumentar contra o sucesso. O método produz resultados, portanto, deve ser bom.

Uma Filosofia Falida

Você percebe como esta nova filosofia necessariamente corrompe a sã doutrina? Descarta o próprio método de Jesus — pregar e ensinar — como os instrumentos primordiais do ministério, substituindo-os por metodologias completamente vazias de conteúdo. Ela existe independentemente de qualquer credo ou cânon. Aliás, evita dogmas ou convicções fortes, considerando-os como divisivos, indecorosos ou impróprios. Rejeita a doutrina como algo acadêmico, abstrato, estéril, ameaçador ou simplesmente não-prático. Em vez de ensinar o erro ou negar a verdade, ela faz algo bem mais sutil e igualmente eficaz do ponto de vista do inimigo. Não se preocupa com o conteúdo. Não ataca a ortodoxia frontalmente, mas presta culto à verdade apenas da boca para fora, enquanto mina, em silêncio, os alicerces da doutrina. Em vez de exaltar a Deus, esta filosofia deprecia as coisas que são preciosas para Ele. Nesse sentido, o pragmatismo se apresenta como um perigo mais sutil do que o liberalismo que ameaçou a igreja na primeira metade deste século.

O liberalismo atacou a pregação bíblica. Um dos vultos liberais de maior influência nos Estados Unidos, no início do século XX, foi Harry Emerson Fosdick, que escreveu: "Pregadores que tomam textos da Bíblia e depois apresentam seu contexto histórico, seu significado lógico no contexto, seu lugar na teologia do escritor, anexados a reflexões práticas, estão empregando mal a Bíblia". A mesma preocupação pragmática que invadiu o evangelicalismo de nossos dias levou Fosdick a seu ódio pela exposição bíblica:

Com certeza, poderia qualquer outro procedimento estar mais predestinado à monotonia e à futilidade? Aliás, quem poderia afirmar que pelo menos um, dentre cem, dos ouvintes estaria preocupado com o que Moisés, Isaías, Paulo ou João queriam dizer naquela passagem específica ou que tenha vindo à igreja profundamente interessado em tais versículos? Ninguém que conversa com o público presume que o interesse vital das pessoas está centralizado no significado de palavras ditas há dois mil anos.

A sugestão de Fosdick foi que os pregadores deveriam começar pelas necessidades sentidas do auditório: "Que eles não concluam, e, sim, comecem pensando nas necessidades vitais do auditório; e que todo o sermão seja organizado em torno de um esforço construtivo para atender estas necessidades".

"Tudo isso manifesta bom senso e boa psicologia", escreveu Fosdick, apelando ao pragmatismo como justificativa. "Todo mundo usa esse estilo, desde professores a anunciantes de alto nível. Por que tantos pregadores persistem em um costume antiquado e negligenciam isso?"

Trata-se exatamente da sabedoria convencional da filosofia da "igreja amigável", norteada por marketing. Começa levando em conta as necessidades sentidas e aborda-as por meio de tópicos. Se de algum modo as Escrituras são utilizadas, é apenas para ilustração — precisamente como advogou Fosdick. É simplesmente uma acomodação a uma sociedade viciada em auto-estima e entretenimento. A diferença é que agora este conselho provém de dentro do evangelicalismo. Segue o que está na moda, mas pouco se preocupa com o que é verdadeiro. Encaixa-se bem ao liberalismo, de onde procede. Porém, está totalmente fora de lugar entre os cristãos que professam crer que as Escrituras são a Palavra de Deus inspirada.

Um recente "best-seller" evangélico alerta os leitores a se colocarem de prontidão contra pregadores cuja ênfase está no interpretar as Escrituras e não no aplicá-las. Espere um pouco. Isto é um conselho sábio? Não, de modo algum. Não existe o perigo da doutrina ser irrelevante; a verdadeira ameaça é a abordagem não-doutrinária em busca de relevância sem doutrina. O cerne de tudo que é verdadeiramente prático encontra-se no ensino das Escrituras. Não tornamos a Bíblia relevante; ela o é, inerentemente, pelo simples fato de ser a Palavra de Deus. Afinal, como pode qualquer coisa que Deus diz ser irrelevante (2 Tm 3.16,17)?

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