Objeção #1- As pessoas são diferentes dos demônios.
Agora, é possível que algumas pessoas possam objetar-se à tudo isto, dizendo que os homens ímpios deste mundo são totalmente diferentes dos demônios. Eles estão sob circunstâncias diferentes e são diferentes espécies de seres. Um objetor pode dizer: "Aquelas coisas que são visível e presentes para os demônios, são invisíveis e futuras para os homens. Além disso, as pessoas têm a desvantagem de terem corpos, que restringem a alma, e impedem que as pessoas vejam estas coisas espirituais em primeira mão. Portanto, mesmo se os demônios possuem um grande conhecimento e experiência pessoal das coisas de Deus, e não têm graça, a conclusão não se aplica a mim". Ou, colocando de uma outra forma: se as pessoas possuem estas coisas nesta vida, isto pode ser muito bem um sinal seguro da graça de Deus em seus corações.
Na resposta, concorda-se que nenhum homem nesta vida jamais terá o grau destas coisas como os demônios as têm. Nenhuma pessoa jamais estremecerá, com a mesma quantidade de temor que os demônios estremecem. Nenhum homem, nesta vida, pode jamais ter o mesmo tipo de conhecimento que o Diabo tem. É claro que os demônios e os homens condenados entendem a vastidão da eternidade, e a importância do outro mundo, mais do qualquer outra pessoa viva, e assim eles desejam ardentemente a salvação ainda mais.
Porém, podemos ver que os homens neste mundo podem ter experiências do mesmo tipo daquelas dos demônios e pessoas condenadas. Eles têm a mesma percepção mental, as mesmas opiniões e emoções, e os mesmos tipos de impressões na mente e no coração. Note, que para o apóstolo Tiago isto é um argumento convincente. Ele argumenta que se as pessoas pensam que acreditar em um único Deus é prova da graça de Deus, ela não é prova, pois os demônios crêem no mesmo. Tiago não está se referindo ao ato de crer somente, mas também às emoções e ações que vão juntas com sua crença. Estremecer é um exemplo de emoções do coração. Isto mostra que as pessoas têm o mesmo tipo de percepção mental, e que reagir no coração da mesma maneira, não é sinal seguro de graça.
A Bíblia não declara quantas pessoas neste mundo podem ver a glória de Deus, sem possuírem a graça de Deus nos seus corações. Não nos é informado exatamente em que grau Deus Se revela a certas pessoas, e quantas deles responderam em seus corações. É muito tentador dizer que se uma pessoa tem uma certa quantidade de experiência religiosa, ou uma certa quantidade de verdade, ela deve ser salva. Talvez, seja até possível para alguns povos não-salvos terem experiências maiores do que aqueles que possuem a graça em seus corações. Assim, é errado olhar para a experiência ou conhecimento em termos de quantidade. Os homens que possuem uma genuína obra do Espírito Santo em seus corações, têm experiências e conhecimento de um diferente tipo.
Objeção #2- As pessoas podem ter sentimentos religiosos que os demônios não podem.
Neste ponto, alguém pode replicar estes pensamentos dizendo: "Eu concordo com você. Eu vejo que crer em Deus, entendendo Sua majestade e santidade, e conhecendo que Jesus morreu por pecadores, não é prova da graça em meu coração. Eu creio que os demônios podem saber estas coisas também. Porém, eu tenho algumas coisas que eles não. Eu tenho alegria, paz e amor. Os demônios não podem tê-los, de forma que isto deve mostrar que sou salvo."
Sim, é verdade que você tem algo a mais do que os demônios possam ter, mas isto não é nada melhor do que os demônios possam ter. Uma experiência pessoal de amor, alegria, etc., não pode ser porque eles tenham qualquer causa neles diferentes de um demônio, mas somente diferentes circunstâncias. As causas, ou origens, de seus sentimentos não são as mesmas. Esta é a razão porque estas experiências não são melhores do que aquelas dos demônios. Para explicar melhor:
Todas as coisas que foram discutidas antes sobre os demônios e pessoas condenadas, surgiram de duas principais causas, entendimento natural e amor próprio. Quando eles pensam sobre eles próprios, estas suas coisas são as que determinam seus sentimentos e reações. O entendimento natural mostra-lhes que Deus é santo, enquanto que eles são ímpios. Deus é infinito, mas eles são limitados. Deus é poderoso, e eles são fracos. O amor próprio dá-lhes um senso da importância da religião, do mundo eterno, e um desejo pela salvação. Quando estas duas causas trabalham juntas, os demônios e os homens condenados conscientizam-se da terrível majestade de Deus, quem eles sabem que será seu Juiz. Eles sabem que o julgamento de Deus será perfeito e sua punição será para sempre. Portanto, estas duas causas juntas com seus sentimentos causarão sua angústia no dia do julgamento, quando eles verão a glória visível de Cristo e Seus santos.
A razão porque muitas pessoas sentem alegria, paz e amor hoje, enquanto os demônios não, pode ser mais devido suas circunstâncias, do que qualquer diferença em seus corações. As causas em seus corações são as mesmas. Por exemplo, o Espírito Santo está agora atuando no mundo impedindo que todos da humanidade sejam tão maus como poderiam ser (2 Tessalonicenses 2:7). Isto está em contraste aos demônios, que são tão maus como eles poderiam ser o tempo todo. Além do mais, Deus em Sua misericórdia dá dons à todas pessoas, tal como a chuva para a colheita (Mateus 5:45), o calor do sol, etc. Não somente isto, mas freqüentemente as pessoas recebem muitas coisas na vida que lhes trazem felicidade, tais como relacionamentos pessoais, prazeres, músicas, boa saúde, e assim por diante. Mais importante de tudo, muitas pessoas ouvem as novas de esperança: Deus enviou um Salvador, Jesus Cristo, que morreu para salvar pecadores. Nestas circunstâncias, o entendimento natural das pessoas pode fazer com que sintam coisas que os demônios não podem sentir.
O amor próprio é uma força poderosa nos corações dos homens, forte o bastante para fazer com que as pessoas, mesmo sem a graça, amem aos que os amam: "E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam." (Lucas 6:32) É uma coisa natural para uma pessoa que vê Deus ser misericordioso, e que sabe que eles não são tão maus como poderiam ser, serem conseqüentemente seguros do amor de Deus por eles. Se seu amor por Deus vem somente de seus sentimentos de que Deus te ama, ou porque você tem ouvido que Cristo morreu por você, ou algo similar, então, a origem de seu amor por Deus é somente o amor próprio. Isto reina nos corações dos demônios também.
Imagine a situação dos demônios. Eles sabem que eles são irrefreáveis em sua maldade. Eles sabem que Deus é seu maior inimigo e sempre será. Embora eles estejam sem qualquer esperança, ainda estão ativos e lutando. Pense apenas, o que aconteceria se eles tivessem algo da esperança que as pessoas têm? O que aconteceria se os demônios, com seu conhecimento de Deus, tivessem suas maldades refreadas? Imaginem se um demônio, depois de todos seus temores sob o julgamento de Deus, fosse repentinamente levado a imaginar que Deus pudesse ser sue Amigo? Que Deus poderia perdoá-lo e permiti-lo, com pecado e tudo, no céu? Oh a alegria, a maravilha, a gratidão que nós veríamos! Não seria este demônio um grande amante de Deus, visto que, apesar de tudo, todo mundo ama as pessoas que lhes ajudam? O que mais poderia causar sentimentos tão poderosos e sinceros? É alguma maravilha, que muitas pessoas são enganadas dessa maneira? Especialmente visto que as pessoas têm os demônios para promover esta ilusão. Eles têm promovido isto agora e por muito séculos, e ah!, eles são muito bons nisto.
As verdadeiras experiências espirituais têm uma origem diferente
Agora chegamos à pergunta: se todas estas várias experiências e sentimentos vêm de nada mais do que os demônios são capazes de possuir, quais são os tipos de experiências que são verdadeiramente espirituais e santas? O que tenho que encontrar em meu coração, como um sinal seguro da graça de Deus ali? Quais são as diferenças que mostram-nas serem do Espírito Santo?
Esta é a resposta: aqueles sentimentos e experiências que são bons sinais da graça de Deus no coração diferem das experiências dos demônios em sua origem e em seus resultados.
Sua origem é a percepção da devastadoramente santa beleza e amabilidade das coisas de Deus. Quando uma pessoa entende em sua mente, ou melhor ainda, quando ela sente seu próprio coração cativado pela atratividade do Divino, isto é um sinal inequívoco da obra de Deus.
Os demônios e condenados no inferno não experimentam agora, e nunca experimentarão nem um pouco disto. Antes da queda deles, os demônios tinham esta percepção de Deus. Mas em sua queda, eles a perderam, e a única coisa que eles poderiam perder do seu conhecimento de Deus. Temos visto como os demônios possuem claras idéias sobre como Deus é poderoso, sobre Sua justiça, santidade, e assim por diante. Eles conhecem muitos dos fatos sobre Deus. Mas agora eles não têm um indício sobre como Deus é. Eles não podem saber o que Deus é mais do que um cego pode saber sobre cores! Os demônios têm uma forte percepção da terrível majestade de Deus, mas eles não vêem Sua amabilidade. Eles têm observado Sua obra entre a raça humana por estes milhares de anos, deveras com toda a atenção; mas eles não podem ver um vislumbre de Sua beleza. Não importa quanto eles saibam sobre Deus (e temos visto que eles sabem realmente muito), o conhecimento que eles possuem nunca lhes trará a este alto e espiritual conhecimento de como Deus é. Pelo contrário, quanto mais eles sabem sobre Deus, mais eles O odeiam.
A beleza de Deus consiste primariamente nesta santidade, ou excelência moral, e isto é o que eles mais odeiam. É porque Deus é santo que os demônios Lhe odeiam. Alguém pode supor que se Deus fosse menos santo, os demônios Lhe odiariam menos. Sem dúvidas os demônios devem odiar qualquer Ser santo, não importa quem Ele seja. Mas, certamente, eles odeiam este Ser ainda mais, por ser infinitamente santo, infinitamente sábio, e infinitamente poderoso!
Pessoas ímpias, incluindo aquelas ainda vivas, verão no dia do julgamento tudo o que há para ver de Jesus Cristo, exceto Sua beleza e amabilidade. Não há nenhuma coisa sobre Cristo que pudermos pensar, que não será posta diante deles em poderosa luz naquele brilhante dia. Os ímpios verão Jesus "vindo nas nuvens, com grande poder e glória". (Mateus 13:26) Eles verão Sua glória visível, que é muito, muito maior do que podemos imaginar agora. Os ímpios serão totalmente convencidos de tudo o que Cristo é. Eles serão convencidos sobre Sua onisciência, a medida que eles virem seus pecados repassados e julgados. Eles verão em primeira mão a justiça de Cristo, a medida que suas sentenças forem anunciadas. Sua autoridade será feita absolutamente convincente quando cada joelho se dobrar, e cada língua confessar a Jesus como Senhor. (Filipenses 2:10,11)
A divina majestade será impressa sobre eles em um modo totalmente efetivo, a medida que os ímpios forem lançados no inferno, e entrarem no seu estado final de sofrimento e morte. (Apocalipse 20:14,15) Quanto isto acontecer, todo seu conhecimento de Deus, tão verdadeiro e poderoso como possa ser, não valerá nada, e menos do que nada, porque eles não verão a beleza de Cristo.
Portanto, é esta visão da amabilidade de Cristo que faz a diferença entre a graça salvadora do Espírito Santo, e as experiências dos demônios. Esta visão ou percepção é que faz a verdadeira experiência Cristã diferente de qualquer outra. A fé do povo eleito de Deus é baseada nisto. Quando uma pessoa vê a excelência do evangelho, percebe a beleza e amabilidade do plano divino da salvação. Sua mente é convencida de que isto é de Deus, e crê nisto com todo seu coração. Como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 4:3,4: "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." Isto é dizer, como foi explicado antes, que os incrédulos podem ver que há um evangelho, e entender os fatos sobre ele, mas eles não vêem sua luz.
A luz do evangelho é a glória de Cristo, Sua santidade e beleza. Justamente após isto nós lemos: 2 Coríntios 4:6 "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo." Claramente, é esta divina luz, brilhando em nossos corações, que nos capacita a ver a beleza do evangelho e a ter uma fé salvadora em Cristo. Esta luz sobrenatural nos mostra a superlativa beleza e amabilidade de Jesus, e nos convence de Sua suficiência como nosso Salvador. Somente um Salvador glorioso e majestoso pode ser nosso Mediador, permanecendo entre o culpado, pecadores merecedores do inferno como nós mesmos, e um Deus infinitamente santo. Esta luz sobrenatural nos dá uma percepção de Cristo que nos convence de uma maneira que nada mais poderia fazer.